A exigência de eleições já para a composição de um novo governo inglês, em um movimento que vai rapidamente se ampliando, foi encabeçada, nesta quinta-feira, 24, pelo líder trabalhista, Jeremy Corbyn, logo após a saída da primeira-ministra inglesa.
O trabalhista pediu uma eleição geral imediata, depois do anúncio da renúncia da premiê Theresa May, uma vez que, “ela parece ter aceito que não pode governar, nem o pode seu partido dividido”.
May declarou que deixaria a condição de líder dos conservadores a partir do dia 7 de junho, o que implica, pelas normas inglesas, no seu afastamento da chefia do governo do país.
Corbyn acrescentou que “a última coisa que o país precisa são semanas de mais luta interna entre os conservadores, seguidas de um novo primeiro-ministro que não foi escolhido para o cargo”.
Outras lideranças inglesas, a exemplo de Tim Roache, secretário-geral da maior das confederações de trabalhadores da Inglaterra, a GMB, enfatizou que “os trabalhadores estão fartos de verem os conservadores brigarem por seus postos enquanto eles estão perdendo os seus”.
“Não podemos permitir que os trabalhadores, as indústrias e as comunidades tornem-se as vítimas de mais um round de tais brigas internas. Vamos para uma eleição geral e deixemos que o povo decida”, acrescentou Roache.
O secretário-geral do Partido Comunista da Grã-Bretanha, Robert Griffiths, também declarou que seu partido exige eleições gerais, afirmando o apoio a “um governo trabalhista de esquerda que comece a colocar no centro a solução de questões como a pobreza, a falta de moradia, os cortes nos serviços e afaste a Inglaterra da participação nos conflitos globais.
Também adiantou o pedido por eleições já, o secretário-geral do Sindicato Nacional dos Bombeiros, Matt Wrack, indignado com a conduta de May em sua fuga de responsabilidade e do seu governo no criminoso incêndio do prédioGrenfell Tower sob administração governamental.
O incêndio envolveu em labaredas todos os andares da construção em questão de minutos, uma tragédia que levou 72 moradores pobres à morte em 14 de junho de 2017. A causa, como se sabe, foi a escolha de um revestimento barato e inflamável para o edifício.
Wrack denunciou que “o inquérito que ela comandou foi uma cobertura para os interesses corporativos e governamentais negando justiça às famílias e permitindo às corporações ligadas ao ramo da construção continuarem com seus negócios como se nada tivesse acontecido”.
Desde que assumiu, Theresa May sofreu sucessivas derrotas ao apresentar seguidas propostas de acordo com a União Europeia em torno da saída da Inglaterra do grupo de países que compõem a UE, a chamada Brexit, aprovada em plebiscito.
Os acordos trazidos ao parlamento por May toda vez que voltava de Bruxelas eram considerados submissos e lesivos à economia inglesa e foram sendo rejeitados e, à medida que isso acontecia, seu apoio caía no parlamento e nas ruas. Desde que assumiu, May viu a renúncia de 30 dos ministros que indicou.
Por outro lado, nem a renúncia de May parece amolecer o coração dos diretores da Comissão Europeia. Eles já deram o recado de que a última das propostas de acordo entre a UE e a Inglaterra não pode ser “nem retomado nem reescrito”.
Na véspera da renúncia de May, o trabalhista Corbyn dirigiu-se aos representantes dos servidores públicos, inclusive os que hoje são terceirizados, afirmando que o descaso com eles mostrava a “feia cara da austeridade dos conservadores”.
“Estes trabalhadores deveriam não apenas receber um salário justo, mas trazidos de volta para casa [referindo-se à recontratação pelo Estado] e o serão em um governo trabalhista”.
Ele também se comprometeu a manter dentro do governo um Ministério do Trabalho com direção integrada pelos servidores: “O sucesso de um futuro governo trabalhista dependerá do movimento sindical”, declarou Corbyn.
“Quando os trabalhistas chegarem ao poder, o farão junto com vocês, as mudanças não serão possíveis sem vocês.
“Juntos vamos criar um Sistema de Seguridade Social cuja finalidade é apoiar e não sancionar.
“Vamos acabar com esse clima de emergência e de racismo que precisa ser esmagado”, finalizou.
Pesente ao evento, o líder dos servidores públicos, Mark Serwotka, declarou seu apoio “a um governo que seja comprometido em dar aos servidores e setores correlatos um verdadeiro poder coletivo de barganha. Isso deveria nos ajudar a negociar uma elevação justa de salários depois de uma década de cortes em termos de poder aquisitivo real”.
“Necessitamos de uma eleição geral na oportunidade mais breve para começarmos a construir uma sociedade nova, com características socialistas, como nos é necessário.
Como destacou o articulista inglês, Patrick Cockburn a saída da premiê não se deve apenas a suas atribulações com respeito ao Brexit mas, “todos os movimentos da calamitosa Theresa May foram desastrosos”.
De fato, a exigência da renúncia de May já estava nas ruas do país. Exemplo disso foi a multidão que tomou a Trafalgar Square em janeiro deste ano com a marcha apinhada de cartazes afirmando “O Reino Unido está quebrado” e exigindo “Eleições gerais agora”, “Cortem a guerra e não os programas sociais” e ainda, “May tem que ir embora”.
“Penso que necessitamos urgentemente uma mudança de governo. A Grã-Bretanha está caindo aos pedaços, nada funciona”, assinalou Stephen Hamer, de 59 anos, um professor aposentado presente à demonstração do início do ano.