“Não estou em Vitória da Conquista, não estou na Bahia, nem no Nordeste. Estou no Brasil”
A filha do cineasta baiano Glauber Rocha, Paloma Rocha, recusou ir à inauguração do aeroporto que tem o nome de seu pai, em Vitória da Conquista, devido à presença de Bolsonaro.
Realmente, não há nada mais oposto a Glauber Rocha, sua vida, sua obra, sua identificação com o povo brasileiro, do que Bolsonaro.
A inauguração do aeroporto, cercada de tapumes para impedir o acesso do povo, apenas confirmou essa constatação.
Para tentar corrigir o estrago causado pelo vexame que deu no café da manhã com jornalistas na sexta-feira (19), onde chamou os nordestinos de “paraíbas”, Jair Bolsonaro colocou mais lenha na fogueira durante o evento, na terça-feira (23).
Repetiu a mesma ladainha arrogante e preconceituosa da elite escravocrata e separou o Nordeste do resto do Brasil: “Não estou em Vitória da Conquista, não estou na Bahia, nem no Nordeste. Estou no Brasil”, disse ele. Como se o Nordeste não fosse parte do Brasil – e, historicamente, culturalmente, humanamente, parte decisiva do país.
Em seguida, usou o microfone para dizer o contrário: “eu amo o Nordeste”, bradou, de cima do palanque. E a justificativa para explicar porque ele amaria o Nordeste ficou ainda pior: “afinal de contas, a minha filha tem em suas veias sangue de cabra da peste”.
Bolsonaro foi flagrado, antes do café da manhã com jornalistas, dizendo para o chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, que “daqueles governadores de ‘paraíba’, o pior é o do Maranhão; tem que ter nada com esse cara”.
Ele não sabia que estava sendo gravado. Por isso, destilou todo o seu ódio aos nordestinos e ao Maranhão, chamando-os pejorativamente de “paraíbas”.
Como a TV Brasil captou a conversa com Onyx, o Brasil inteiro tomou conhecimento do desprezo de Bolsonaro pelo Nordeste, particularmente de sua atitude segregacionista contra o estado do Maranhão, governado por Flávio Dino, do PCdoB.
Pois agora ele descobriu que “eu amo o Nordeste”, mas o Nordeste não faz parte do Brasil.
Não fossem os tapumes que foram colocados pelos bolsonaristas para separar sua claque do conjunto dos baianos de Vitória da Conquista, ele ouviria bem alto o mesmo som que ouviu no estádio do Mineirão e no Maracanã.
Diante do circo armado, o governador da Bahia, Rui Costa (PT), se recusou a participar do evento de inauguração do terminal aéreo por considerá-lo restrito a poucos convidados, “como se fosse uma convenção político-partidária”.
Assim como o governador Rui Costa, o presidente da Assembleia Legislativa da Bahia, Nelson Leal (PP), também informou que não participaria da cerimônia, em solidariedade à decisão de Costa.