Gestão desastrosa põe economia a pique
Sem investimento, sem salário e aposentadoria não há mercado interno
Quando foi que o país esteve sob uma administração econômica que permitiu uma queda na previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) – isto é, no crescimento da economia – durante 17 semanas seguidas, e com perspectiva de continuar a cair, a cair e a cair?
Por mais desastradas e incompetentes – ou até estúpidas – que tenham sido algumas gestões passadas, não nos lembramos de coisa igual.
Pois, segundo o Boletim Focus, publicado pelo Banco Central (BC) a cada segunda-feira, esta foi a 17ª semana em que caiu a previsão do PIB, elaborada pelas instituições financeiras.
Caiu, agora, para 0,87%, depois de começar o ano em 2,53% (Boletim Focus de 04/01/2019) e manter-se em 2,48% no final de fevereiro.
E, como já dissemos antes, não se trata de uma média das previsões, mas de uma mediana: o que significa que 50% das previsões foram abaixo de 0,87%.
Por exemplo, os departamentos de economia tanto do Bradesco quanto do Itaú divulgaram 0,8% como sua previsão.
Houve, portanto, na previsão do Boletim Focus, uma queda de 1,66 pontos percentuais ou -65,61%, desde janeiro.
Não são números inocentes.
Isso significa gente sem trabalhar e sem receber salário (28 milhões e 400 mil trabalhadores desempregados ou subempregados, segundo a última PNAD Contínua, do IBGE).
Isso significa gente passando fome, crianças morando na rua – pois até os recessos dos viadutos, na maioria das grandes cidades, foi interdito ao povo que é despejado de suas casas.
Isso significa gente morrendo, gente sem escolas, gente sem nada.
Porém, segundo Guedes, o ministro de Bolsonaro, é assim mesmo, nada é preciso fazer, exceto saquear mais o povo, deixando-o sem aposentadoria, sem assistência, sem direitos, exceto o direito – talvez a obrigação – de morrer o quanto antes.
Quando foi que um governo agiu dessa forma, parado diante da catástrofe?
Nenhum, nem mesmo os piores – talvez haja algum paralelo, como lembrou Marco Campanella, no governo Campos Sales (v. HP 18/06/2019, Vaias, legumes e ovos não faltarão…).
Mas o governo Campos Sales acabou em 1902 – portanto, há 117 anos.
A situação é tão catastrófica que, no momento, não há mais ninguém que tenha a opinião – ou que tenha o descaramento de dizer – que a “reforma da Previdência” de Bolsonaro e Guedes possa nem mesmo melhorar a situação do país, quanto mais tirá-lo da crise.
Agora, até os adeptos da tentativa de estuprar a Previdência dizem que a situação piorou tanto que a reforma da Previdência não adianta – são necessárias outras pilhagens sobre o povo, dizem eles.
Mas o significativo é que nem estes conseguem sustentar que a reforma da Previdência vai tirar o país da crise. Todos, com exceção de um escroque como Guedes, acham que não vai.
Quanto a Guedes, é capaz de qualquer mentira, de qualquer vigarice, até que a produção industrial, com sua brilhante administração da economia, vai subir “8,46% em dois anos” (por que não 8,45% ou 8,47%?), como disse na última segunda-feira.
Também, cada vez menos gente acha que a culpa do abismo atual é dos governos anteriores.
Os governos anteriores são culpados por aquilo que fizeram – não por aquilo que o governo Bolsonaro fez ou não fez, isto é, por aquilo que está destruindo.
Pois essa é a “pauta” econômica do governo Bolsonaro: a mera destruição do país, de suas forças produtivas, das energias de seu trabalho.
Vejamos as previsões do PIB, do Boletim Focus:
- 28/12/2018: 2,55%;
- 04/01/2019: 2,53%;
- 15/02/2019: 2,48%;
- 22/02/2019: 2,48%;
E, agora, vem a derrocada:
- 01/03/2019: 2,30%;
- 08/03/2019: 2,28%;
- 15/03/2019: 2,01%;
- 22/03/2019: 2,00%;
- 29/03/2019: 1,98%;
- 05/04/2019: 1,97%;
- 12/04/2019: 1,95%;
- 18/04/2019: 1,71%;
- 26/04/2019: 1,70%;
- 03/05/2019: 1,49%;
- 10/05/2019: 1,45%;
- 17/05/2019: 1,24%;
- 24/05/2019: 1,23%;
- 31/05/2019: 1,13%;
- 07/06/2019: 1,00%;
- 14/06/2019: 0,93%;
- 21/06/2019: 0,87%.
Essas são previsões dos bancos, do setor financeiro.
O que elas refletem?
O mais selvagem arrocho no crédito, agora completado pela nomeação de um arruaceiro para o BNDES, cuja função é transferir dinheiro do banco para o Tesouro locupletar rentistas com juros, reduzindo ao máximo os recursos para financiamento de empresas.
A manutenção de uma taxa de juros completamente extorsiva para a situação do Brasil.
Aliás, o comunicado do Comitê de Política Monetária – Copom – do Banco Central sobre a manutenção da taxa de juros, no dia 19, é um escárnio: segundo o sr. Bob Fields Neto e sua equipe, o maior risco para a economia brasileira é a alta da inflação por “uma eventual frustração das expectativas sobre a continuidade das reformas e ajustes necessários na economia brasileira”.
Em suma, a chantagem passou a ser política econômica: ‘se não aprovarem a reforma da Previdência nós vamos aumentar mais ainda os juros’.
Além disso, com um desequilibrado na Presidência, cujo programa é “desfazer” o país, a expectativa dos empresários – e dos consumidores – não é de melhora da situação.
QUEDA
A situação é de regressão sem freios – ou seja, sem política econômica que impeça essa regressão.
O resultado do PIB no primeiro trimestre foi uma queda (-0,2%, em relação ao último trimestre de 2018).
A expectativa para o próximo trimestre (abril-maio-junho) é outra queda.
Segundo o IBC-Br, indicador do Banco Central (às vezes chamado de “prévia do PIB”), o nível de atividade da economia voltou a cair pela 4ª vez seguida neste ano (-0,47% em abril na comparação com março).
Diante desse quadro, o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) alerta que a economia está se deteriorando, e defende que para o país voltar aos eixos é preciso reduzir o desemprego e aumentar o poder aquisitivo da população para assegurar uma retomada do consumo.
O Setor Industrial acumulou queda de -2,7% nos quatro primeiros meses de 2019.
“Pode ser que estejamos vendo, em 2019, o mesmo comportamento do último ciclo recessivo. Primeiro, a indústria registra taxas negativas, que se espalham para o conjunto da economia, devido aos inúmeros vínculos que o setor estabelece com as outras atividades produtivas. Em seguida, o comércio e depois os serviços entram no vermelho”, alerta o Iedi, destacando que faltam “bases sólidas de dinamização da demanda” – ou seja, faltam empregos e salários – “que possam gerar um processo consistente de recuperação”.
O governo divulgou, na segunda-feira (24), que irá cortar pela terceira vez a previsão oficial de crescimento do PIB para 2019, e isso significa que a equipe econômica de Bolsonaro vai diminuir a estimativa de receitas federais e apresentará novos cortes orçamentários para cumprir o “ajuste fiscal”.
Segundo o secretário de Política Econômica do Ministério da Economia, Adolfo Sachsida, o ministério planeja antecipar a divulgação da estimativa do governo para o PIB, para acompanhar as previsões mercado.
Somente para – como se dizia nas redações escolares de antigamente – aproveitar o ensejo: Sachsida é mais um gênio bolsonarista, autor da teoria (aliás, copiada de débeis mentais dos EUA) pela qual todos, independente da sua renda, deveriam pagar a mesma quantia de impostos.
Não se trata, leitor, da mesma taxa ou alíquota, mas da mesma quantia (“você pode argumentar ser injusto o rico pagar a mesma quantidade de imposto que o pobre. Contudo, devo lembrá-lo que a tributação não deve ser usada para distribuição de renda”, escreveu Sachsida no texto “Em defesa do imposto único” (v. HP 22/09/2018, Bolsonaro aparece para apoiar insanidades de Guedes contra o Brasil).
Isso é o governo Bolsonaro.
ANTÔNIO ROSA
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