A falta de bolsas de estudo já afeta pesquisas importantes no país. É o caso de Letícia Masako Takahashi, de 26 anos, que precisou interromper seu doutorado em química na Universidade Federal do Triangulo Mineiro (UFTM), por não possuir condições de sustento sem o apoio fornecido pela Capes.
A situação de Letícia causou comoção após a divulgação de carta em que ela pede o seu desligamento do programa de pós-graduação iniciado em março. Há dois anos, a química conduz pesquisa em conjunto com sua orientadora de mestrado e doutorado, a também química Amanda Danuello Pivatto, sobre fármacos para o tratamento de leishmaniose— uma doença infecciosa causada por protozoários parasitários e que é transmitida pela picada de insetos.
No Brasil, apenas em 2018, foram registrados 17 mil casos de leishmaniose, de acordo com a Fundação Oswaldo Cruz. Um aumento de 38% em comparação ao ano anterior.
A cientista passava até 12 horas acompanhando reações químicas que apontassem para um tratamento eficaz e barato contra a doença, que ataca principalmente regiões com deficiência no atendimento de saúde e saneamento básico.
Ela relatou as dificuldades para seguir a carreira acadêmica e a impossibilidade de se conciliar a pós-graduação com outro trabalho paralelo. “O laboratório precisava que eu estivesse mais tempo presente, as disciplinas eram mais pesadas, enfim, não dava para conciliar. Ou eu trabalhava para me sustentar ou eu me dedicava às atividades da pós-graduação”, disse.
“A dedicação exclusiva tem um preço alto”, destacou.
“Não existe férias, finais de semana, descanso ou feriado. Se uma reação precisa da sua atenção por 18h, você vai ficar no laboratório 18h. Se precisa ser monitorada aos finais de semana, então você irá trabalhar aos finais de semana. Se os resultados deram errado e seu prazo está apertado, então você irá fazer dar certo em tempo recorde. Isso sem contar o trabalho que você leva para casa, já que a parte escrita acontece nos intervalos do trabalho no laboratório, normalmente nas madrugadas”, relatou.
“Tudo isso sem ser reconhecida como trabalhadora. Sem direito a férias remuneradas, 13º, FGTS, insalubridade ou periculosidade. Sem nenhuma garantia trabalhista, mas trabalhando feito louca sem parar”, completa Letícia.
A bolsa que foi negada para a pesquisadora possui um valor mensal de apenas R$ 2.200,00.
“Agora no começo de 2019, defendi o mestrado com resultados promissores na descoberta de novas moléculas com potencial para se tornarem novos fármacos no tratamento da leishmaniose. Defendi o mestrado já aprovada no doutorado e o plano era dar sequência a essa pesquisa. Uma pesquisa que poderia levar a um novo medicamento contra a leishmaniose! Mas infelizmente isso não será possível”, lamentou.
“Sem bolsa, não é possível pesquisar em dedicação exclusiva. Apesar de amar muito a minha pesquisa e acreditar nos resultados que estou/estava obtendo, não tem como viver de amor. As contas no fim do mês chegam e a prioridade querendo ou não é a sobrevivência básica. Tentei conciliar meu (novo) emprego como professora na rede estadual com o doutorado, mas não dá. A pesquisa precisa ser vivida integralmente, não da para levar as coisas pelas metades e esperar obter bons resultados.
“Assim como eu, muitos pesquisadores Brasil afora estão desistindo por falta de meios para subsistência. Dói porque, com o corte de verba anunciado para as universidades públicas, muitos laboratórios fecharão suas portas e muitas outras pesquisas serão interrompidas.
Não existe pesquisa se não existir Universidade Pública de qualidade!
E talvez, daqui alguns dias, não exista mais universidade pública…
Quem está batendo palmas para tudo isso, não faz a menor ideia do que está acontecendo!”
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