Bolsonaro culpou o Congresso Nacional pelo caos do seu governo. Isso após ofender estudantes, professores e pesquisadores de todo o país, que foram às ruas na última quarta-feira (15), em protesto contra os cortes de verbas das Universidades e Institutos Federais, taxando os milhões de manifestantes de “idiotas úteis” e “massa de manobra”.
Ele não aceita a atuação dos parlamentares que vêm agindo no sentido de colocar alguns freios, mesmo que tênues, aos seus desatinos.
“O Brasil é um país maravilhoso, que tem tudo para dar certo. Mas o grande problema é a nossa classe política”, disse ele, em discurso na sede da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), nesta segunda-feira (20). Ele disse que a salvação do país está em gente como ele, como o prefeito Marcelo Crivella e como o governador do Rio, Wilson Witzel.
Ele não começou a governar, Crivella está às voltas com o impeachment na Câmara de Vereadores e Witzel vive em helicópteros que fazem tiro ao alvo nas comunidades do Rio de Janeiro. Na cabeça do mito, são esses os “salvadores” do Brasil.
Bolsonaro atacou os políticos e parece que esqueceu seus quase 30 anos no Congresso, onde apresentou apenas um projeto de sua autoria. Neste tempo em que esteve na Câmara não dava sinais de insatisfação com a “velha política”. Ele e os filhos empregaram familiares em seus gabinetes e lavaram dinheiro usando as estruturas públicas dos legislativos municipal, estadual e federal.
O presidente tem sofrido seguidas derrotas no Congresso Nacional, basicamente porque suas propostas não representam soluções objetivas para a grave crise vivida pelo país e também porque o presidente não demonstra nenhum respeito pelas opiniões dos parlamentares.
Além de dizer que os políticos estão atrapalhando o Brasil, Bolsonaro respaldou o ministro lunáticos da Educação, Abraham Weintraub, que insinuou que os deputados são vagabundos, ao afirmar, durante audiência do último dia 15, que eles [os deputados] não conhecem uma carteira de trabalho.
Algumas das propostas do governo, como a reforma da Previdência, por exemplo, que retirará, segundo a própria equipe econômica, R$ 1,2 trilhão das aposentadorias dos trabalhadores para esterilizá-los na especulação financeira, não só não resolvem o problema, como vão agravar ainda mais crise econômica.
É por isso que os parlamentares estão querendo interferir mais na discussão e não aceitam o “pacote fechado” do governo sobre as mudanças na Previdência.
Bolsonaro e seus seguidores não admitem qualquer ponderação dos deputados e já chamam, inclusive, manifestações raivosas de rua contra setores do Congresso Nacional.
A cobertura da mídia também foi enxovalhada pelo presidente na Firjan, que classificou-a como uma “central de fofocas”. “O que há é uma grande fofoca. E parece que lamentavelmente, grande parte da nossa mídia se preocupa mais com isso do que com a realidade e o futuro do Brasil”, afirmou Bolsonaro, aos empresários fluminenses.
Realmente, grande parte da mídia brasileira, revelando um razoável grau de bom senso, já percebeu que há poucas chances do país sair da crise sob o comando deste governo.
Na verdade, a irritação de Bolsonaro com a mídia está sendo motivada pela cobertura que vem sendo feita por jornais e emissoras de TV das investigações que o Ministério Público do Rio de Janeiro está conduzindo de seu filho, Flávio Bolsonaro e do ex-motorista de seu gabinete, Fabrício Queiroz.
Recentemente, o MP pediu a quebra do sigilo de Flávio Bolsonaro e de outras 94 pessoas ligadas ao senador e filho do presidente, nas investigações do caso Queiroz. O MP investiga a movimentação de R$ 1,2 milhão na conta de Queiroz entre 2016 e 2017.
Quando se retrocede a investigação até 2014, esse valor chega a R$ 7 milhões. O MP suspeita que o gabinete de Flávio Bolsonaro abrigou uma organização criminosa responsável pelos crimes de peculato e lavagem de dinheiro.
Jair Bolsonaro ironizou as denúncias da mídia sobre o uso de candidatas laranja por seu partido, o PSL, nas eleições de 2018. Ele disse “até gostaria” de ser dono de um laranjal, já que laranja é um produto rentável.
“No Rio de Janeiro, as três candidatas laranja recebeu cada uma, R$ 1,8 mil para pagar o contador e não coloca na prestação de contas. Aí eu sou dono do laranjal no Rio de Janeiro. Até gostaria que fosse, a laranja é um produto rendoso”, afirmou o presidente.
Além do desgaste com a mídia e o Congresso, Bolsonaro criticou também, durante a palestra, a atuação do Ministério Público nos combates aos crimes ambientais. “Tudo o MP se mete. Algumas vezes com razão, em outras não. E inviabiliza aquela obra”, afirmou o presidente, que depois mencionou especificamente uma linha de energia entre Manaus e Boa Vista.
Ele se referia às fiscalizações de projetos que envolvem áreas de reserva indígena, como a construção de hidrelétricas, e citou o Ministério Público e a Funai.
Bolsonaro: o seu laranjal é podre, portanto, não é rentável.