Jair Bolsonaro disse nesta sexta-feira (9) que não permitirá questões que considere polêmicas nas provas do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) e que sua equipe “vai vistoriar as provas antes”. A resposta veio imediata, por parte da presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), professora Maria Inês Fini, responsável pela elaboração da prova. “Não é o Governo que manda na prova” disse ela.
“O Inep tem uma diretoria específica de técnicos consagrados que, com a ajuda de uma série de educadores e professores universitários de todas as regiões do país, elaboram a prova”, acrescentou a diretora. Maria Inês não é nenhuma “esquerdista, vermelha, ou coisa que o valha”. Ela estava, inclusive, cotada para assumir o Ministério da Educação do próprio Bolsonaro. Provavelmente já deve ter sido descartada, por defender a autonomia, a pluralidade e a lisura na elaboração das provas. A professora reafirmou que o Inep tem autonomia plena para elaborar as questões, “sem qualquer intervenção do governo”.
Quanto mais Jair Messias Bolsonaro fala, maior é o contingente de brasileiros que percebe nele um enorme desconhecimento sobre quase todos os assuntos. Certamente por isso ele ficou de boca calada na maior parte da campanha e desapareceu dos debates. Não sabia que o governo não pode interferir na elaboração das provas conduzidas pelo Inep.
Apesar de citar especificamente uma questão identitária, o que, certamente, fez o ex-capitão desrespeitar a diretoria do Inep, foi o tema redacional, que abordou as manipulações de opinião pública feitas por dentro da internet. Deve considerar uma provocação, já que foi denunciado por fazer exatamente isso durante a campanha. O outro tema que o ex-capitão não deve ter digerido muito bem e considerado “doutrinação” foi a questão histórica contendo um pequeno trecho do discurso do ex-presidente João Goulart defendendo a democracia em plena praça pública.
Maria Inês criticou o caráter obtuso daqueles que consideram “doutrinação” debater temas como este. “Em momento algum houve qualquer perspectiva de doutrinação, de valorização de uma posição em detrimento da outra”, disse a diretora do Inep. “Eu só lamento que algumas leituras tenham sido equivocadas, mas cada pessoa, cada leitor do mundo faz uma interpretação do texto da maneira como quer, não é? Com a sua cultura, com seus valores e com as suas ideologias”, acrescentou Maria Inês, para quem “a prova é uma oportunidade para jovens interajam com a tipologia de diversos autores, de forma plural”.
SÉRGIO CRUZ