A Justiça de Goiás determinou, nesta sexta-feira (14), a prisão preventiva de João de Deus, suspeito de praticar abusos sexuais em ao menos 330 mulheres durante tratamentos espirituais, em Abadiânia (GO). A Polícia Civil está à procura do médium na região.
Na quarta-feira (12), o Ministério Público Estadual de Goiás (MP-GO) protocolou um pedido de prisão na promotoria de Abadiânia. No entanto, não se sabe se este é o pedido que originou a decisão, já que o inquérito sobre o médium está em segredo de justiça.
Uma força-tarefa foi instituída pelo MP-GO para apurar as denúncias contra o médium João de Deus por abuso sexual, que em quatro dias, recebeu telefonemas e mensagens de 330 mulheres, que registraram acusações contra o médium.
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Ainda, o MP-GO convocou a titular da promotoria de Abadiânia, Cristiane Marques, que estava de férias, para reforçar a força-tarefa que investiga as acusações de abuso sexual. Ao menos, cerca de seis promotores e duas psicólogas participam da força-tarefa.
Para colher o depoimento das mulheres que não moram em Goiás, o MP-GO preparou uma sala de videoconferência. Nela, ficam os promotores de Goiás que participam da força-tarefa, psicólogas e dois tradutores de línguas estrangeiras.
Assim como o MP-GO, a Polícia Civil montou uma força-tarefa para apurar os casos. A corporação informou que, até quinta-feira (13), recebeu 14 denúncias formais, sendo que 13 mulheres já foram ouvidas.
MEU PAI É UM MONSTRO
Em entrevista, a filha de João de Deus, Dalva Teixeira de 49 anos, revelou ter sido abusada pelo pai desde os 10 anos de idade. “Meu pai é um monstro”, disse Dalva.
Segundo a entrevista à revista “Veja”, Dalva conheceu o pai aos 9 anos de idade, quando deixou de morar com a mãe, em uma fazenda, para continuar os estudos em Abadiânia. Os abusos teriam começado no ano seguinte e aconteciam na casa dele, no carro e durante viagens.
Ainda, na última terça-feira (11), a página no Instagram de João de Deus divulgou um vídeo no qual Dalva aparece ao lado dele negando as acusações de estupro. A filmagem, no entanto, teria sido feita em 2017 e sob ameaça. Dalva move processo contra o próprio pai por estupro continuado.
CASOS
Dentre muitos casos já relatados, uma ex-moradora de Taguatinga (DF) afirmou ter engravidado do médium João de Deus após sofrer abuso sexual em Abadiânia. A comerciante, de 53 anos, disse que o líder espiritual deu um remédio para ela abortar o bebê.
A vítima relatou ter 16 anos na época do fato. Ana Maria Azevedo era prestadora de serviço do local e sofreu o abuso três meses após iniciar o trabalho. “Uma amiga minha que me levou para conhecer o João de Deus. Aí, eu fui para lá trabalhar com ele na corrente. Com três meses, ele abusou de mim. Tirou minha roupa, minha peça íntima de baixo, a de cima não. Ele fez o que fez e eu peguei uma gravidez dele”, relatou em depoimento.
Ela aponta que, meses depois a barriga começou a crescer e assim voltou à procura do médium pedindo ajuda. “Ele falou assim: ‘Não! Eu vou te dar um remédio’. Eu pensei que o remédio era uma garrafada para fazer um tratamento, mas ele me deu um remédio para matar a criança, para eu não complicar a vida dele”.
Hoje, morando em Uberaba (MG), a vítima teve coragem de denunciar: “Ele falou que ia me matar se eu falasse alguma coisa”, completou.
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