O deputado federal Chico D’Angelo (PDT-RJ) criticou a intervenção realizada pelo governo Bolsonaro no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) com a gestão de Suzana Cordeiro Guerra. Ele ressalta que o IBGE nunca sofreu a interferência de políticos, partidos ou governos.
Na segunda-feira, Guerra demitiu o diretor de Pesquisas Cláudio Dutra Crespo e o diretor de Informática José Santana Beviláqua. As demissões aconteceram após Crespo criticar o corte de 25% da verba destinada para a realização do Censo Demográfico 2020.
Segundo Chico a perseguição ao IBGE se deve ao fato de o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o presidente Jair Bolsonaro estarem insatisfeitos com os números que mostram o aumento do desemprego no País. Chico D’Angelo informa está agendada para 5 de junho uma homenagem na Câmara para o IBGE.
“O IBGE não está a serviço de propaganda de Governo. O Bolsonaro, o Paulo Guedes e a nova Presidente Susana Guerra Cordeiro querem, na verdade, desqualificar essa instituição que presta relevantes serviços”, apontou em discurso no Plenário da Câmara dos Deputados na última terça-feira.
A próxima edição do levantamento, que desde 1872 mede o tamanho da população e dezenas de outras características dos brasileiros, virou tema de debate. O ponto central da discussão é o seu custo, por conta das restrições orçamentárias impostas pelo Governo Federal.
Questionada, pelo jornal “O Globo”, se a demissão do diretor seria por ele ser contra o corte de verbas para a realização do Censo, a presidente do IBGE, Susana Cordeiro Guerra, desconversou. “Cláudio fez um trabalho de excelência à frente da DPE (Diretoria de Pesquisas), mas no momento é preciso reforçar a equipe na área de demografia. Nós precisamos alinhar o censo e otimizar o seu papel de medir a densidade populacional e o perfil da população brasileira”, disse Susana Guerra.
Na visão de Chico D’Angelo, “o IBGE é um patrimônio do povo brasileiro, um órgão de Estado, e não uma instituição para propagandas do Governo”. Segundo o parlamentar, Paulo Guedes mentiu quando, para defender o corte de verba, disse que o Censo teria um excesso de perguntas.
“Um censo de qualidade mostra a fotografia do Brasil com seus problemas. O Brasil é um país complexo e desigual. Nós dispormos de uma ferramenta e de um censo bem-feito, de qualidade, é muito importante para que todos possamos saber da dimensão dos problemas do Brasil. Repito, o Paulo Guedes mentiu ao dizer que na pesquisa havia em torno de 360 perguntas. Mentira! No censo anterior ao de 2020 foram feitas 49 perguntas”, destacou.
“Todos os órgãos que trabalham com seriedade e com compromisso junto à população brasileira estão sendo perseguidos pelo Bolsonaro”, completou o deputado.
Todos pelo Censo
Técnicos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) lançarão no próximo dia 30, no Rio, a campanha “Todos pelo Censo 2020”, com o objetivo de preservar o orçamento do Censo Demográfico de 2020.
Reduzir o número de perguntas fará pouco efeito nos gastos, dizem os técnicos, que temem prejuízos à qualidade do Censo.
Todos os núcleos da ASSIBGE, entidade que representa os funcionários do órgão apoiam a iniciativa. Segundo a socióloga Luanda Botelho, coordenadora do Núcleo da ASSIBGE, no Rio de Janeiro, a mobilização pretende convencer o Ministério da Economia a desistir do corte no orçamento.
“O que temos ouvido é que um dos caminhos (para cortar o orçamento) seria reduzir o salário dos recenseadores. Isso não seria suficiente e seria prejudicial para a qualidade”, afirmou Luanda.
De acordo com Luanda, pagar menos para os recenseadores, que são contratados como funcionários temporários, poderá aumentar a rotatividade entre esses trabalhadores, já que aumentaria a chance de eles desistirem do trabalho no IBGE para realizar outros trabalhos.
A sindicalista, que também é coordenadora da campanha, duvida que a economia que a redução do questionário da pesquisa, proposta por Suzana Guerra, não vá implicar na perca da qualidade e ainda defende o formato amplo o qual a pesquisa vem sendo realizada nas últimas décadas.
Segundo Luanda, os testes piloto do Censo 2020 que já foram feitos apontaram que a aplicação do questionário completo da pesquisa, que tem 112 perguntas e foi considerado excessivo pelo ministro Guedes, leva 14 minutos. Só que apenas uma amostra da população responde o questionário completo. O questionário básico, esse sim respondido por todos os brasileiros, leva sete minutos de aplicação.
Ainda conforme Luanda, cada recenseador aplica em média dez questionários por dia. A cada dez questionários básicos é aplicado um completo. A líder sindical sustenta que a maior parte do trabalho dos recenseadores é dedicada aos deslocamentos, que são longos no caso dos domicílios rurais, e repetidos, no caso dos domicílios urbanos, dado que é comum morador não ser encontrado em casa. “A cada cinco horas, o recenseador gasta 84 minutos com os questionários”, disse Luanda.
Com a campanha Todos pelo Censo 2020, a ideia é receber manifestações de apoio de pesquisadores acadêmicos e políticos. O evento de lançamento será um debate sobre a importância do Censo Demográfico, às 18 horas, no auditório da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), no Rio de Janeiro.