O prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (PRB), atribuiu os danos e as 10 mortes causadas pelas chuvas na cidade a fatores como a ocupação de encostas pela população. “Todos os cidadãos têm que se convencer que vivemos em uma cidade com árvores enormes, com encostas, com riscos de deslizamento. Não podemos construir casa em encosta”, afirmou Crivella, em entrevista à Rádio CBN na terça-feira (9), .
O prefeito ainda arriscou dizer que, se tais atitudes tivessem sido evitadas, “isso não estava acontecendo”.
Mas, a verdade que Crivella nega é que ele não gastou um centavo na manutenção da drenagem urbana da cidade e na contenção de encostas em 2019, de acordo com os dados disponibilizados pela própria Prefeitura no Portal de Transparência.
Os R$ 8.297.106,09 pagos para as empreiteiras contratadas para os serviços de drenagem na verdade quitaram apenas faturas de serviços prestados no ano passado (2018).
Crivella não tomou qualquer medida para tentar diminuir os problemas que uma tempestade como as que tem acontecido este ano traz.
As despesas de drenagem tem caído desde que Crivella assumiu. Em 2016, o último ano do governo do ex-prefeito Eduardo Paes, o total gasto no programa foi de R$ 55,3 milhões (sem incluir restos a pagar). Em 2017, primeiro ano do governo Crivella, R$ 33,5 milhões; 2018, R$ 24,4 milhões; 2019, até o momento, R$ 0,00.
A antiga Secretaria de Conservação e Meio Ambiente (Seconserma) não autorizou (empenhou) novas despesas entre janeiro e o início de abril. O temporal que deixou ao menos 10 mortos na cidade é o terceiro registrado em 2019.
Assim como no caso da drenagem, a Prefeitura não investiu recursos este ano em obras de contenção de encostas. Nenhum centavo foi empenhado (autorizado a gastar), de acordo com o portal de transparência da cidade, Rio Transparente. Os R$ 4,4 milhões pagos em 2019 referem-se a despesas realizadas em 2018.
No ano passado, a Prefeitura gastou R$ 35,7 milhões (incluindo faturas pagas em 2018). Em 2017, as despesas foram menos do que no ano passado chegando a R$ 27,4 milhões. Por sua vez, em 2016, último ano da gestão do ex-prefeito Eduardo Paes, foram aplicados cerca de R$ 62 milhões (não incluindo faturas pagas do ano anterior).
Na CBN, o prefeito ainda chamou de falsos o que os dados do portal de transparência apontam e disse: “O que ocorre é que com a ocupação de encostas, por mais obras que se façam, sempre teremos riscos”.
Marcelo Crivella descartou decretar estado de emergência na cidade, depois de classificar as chuvas como “atípicas”, durante a terça-feira, ele atribuiu ao aquecimento global o alto volume de água inesperado pelos órgãos municipais.
“Não, nós estamos passando pela emergência. Estamos enfrentando problemas seriíssimos de aquecimento global, nunca choveu tanto em tão pouco tempo”, afirmou.
O prefeito ainda fez o mea-culpa e admitiu falhas de gestão. Assumiu que a Prefeitura deveria ter se preparado melhor para uma eventualidade do tipo e disse que “nas próximas chuvas em que tivermos previsão de grande precipitação em curto espaço de tempo, nós já teremos que ter esses equipamentos”, referindo-se a ações que poderiam ser tomadas pelo governo. Se a chuva foi atípica, o próprio prefeito lembrou que o cenário foi “uma coisa que tínhamos visto anteriormente”, concluindo que “infelizmente não fomos prudentes”.
Crivella também se queixou de que a Cedae joga esgoto na nossa rede pluvial, o que faz com que ela se rompa. Por meio de nota, a Cedae contestou a afirmação do prefeito.
“A Cedae rechaça com veemência as declarações inverídicas do prefeito do Rio, Marcelo Crivella, que tenta responsabilizar a companhia pelo caos provocado pelas chuvas que atingiram a Região Metropolitana do Rio. As redes de abastecimento de água e de coleta de esgoto da Cedae não têm nenhuma relação com o sistema de drenagem de águas das chuvas, que são de competência exclusiva dos municípios, como todas as prefeituras sabem. Portanto, não é verdade que a Cedae “joga esgoto” na rede de águas pluviais do Rio, como tem declarado o prefeito Crivella à imprensa”, informou a companhia.
Em meio cenário de completa destruição de diversos bairros da cidade, dos mais ricos aos mais pobres, Crivella afirmou que a cidade vai superar os problemas com “bom ânimo”. Em entrevista com os jornalistas, o prefeito comentou que “o sol está brilhando no céu” e, enfim, “o Rio de Janeiro vai sair da crise”.
MAÍRA CAMPOS