Na noite de quarta-feira (27), o diretor de Avaliação da Educação Básica do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Paulo César Teixeira, pediu demissão do cargo. Essa é a 13ª baixa no alto escalão do MEC e do Inep desde o início do novo governo Bolsonaro.
A diretoria que Paulo César coordenava é responsável pela realização do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). O pedido de demissão de Teixeira ocorreu no dia seguinte ao da saída de Marcus Vinicius Rodrigues do cargo de presidente do Inep. A exoneração de Rodrigues foi publicada na terça-feira (26), após polêmica sobre portaria que adiou a avaliação da alfabetização, que já havia resultado no pedido de demissão da secretária de Educação Básica do Ministério da Educação, Tania Leme de Almeida, na segunda-feira (25).
Marcus Vinícius Rodrigues afirmou após a publicação de sua exoneração, em entrevista para O Globo, que o ministro da Educação do governo Bolsonaro, Ricardo Vélez Rodríguez, é “gerencialmente incompetente” e “não tem controle emocional” para comandar a educação brasileira. E frisou ainda que “não há comunicação dentro do Ministério da Educação”.
“Foi um processo muito ruim, que mostrou a incompetência gerencial muito grande… [Em três meses de governo] não houve nenhuma reunião de trabalho com o ministro da Educação” destacou Vinícius Rodrigues.
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Em 3 meses, além das demissões, o MEC tem passado por momentos vergonhosos sob a direção de Vélez, como a publicação de edital que permite a compra de livros didáticos com erros ou propagandas; declarações do ministro à imprensa que agridem a imagem do povo brasileiro – “roubam coisa em hotéis, roubam acento de salva-vidas do avião; ele acha que sai de casa e pode carregar tudo…”-, disse o ministro sobre os brasileiros; pedido para escolas enviarem vídeos das crianças cantando o Hino Nacional sem pedir a previa autorização dos pais e criação de uma comissão de censura para verificar se questões do Enem têm pertinência com a realidade social, entre outros absurdos.
A pasta sofre ainda com uma “guerra” por disputa de poder, envolvendo militares que ocupam cargos no ministério e pessoas ligadas ao guru do governo Bolsonaro, o professor de curso online, Olavo de Carvalho – sujeito este que indicou Vélez para a pasta da educação. O último exonerado, Marcos Vinicius Rodrigues, era vinculado à ala militar.
Enquanto tudo isto ocorre na pasta, programas importantes do MEC estão sem definição ou atrasados, como a implementação da Base Nacional Comum Curricular, denunciam especialistas em educação. “O que temos visto é um ministro que não tem preparo para gestão ou para formular políticas. Há uma falta de prioridade para a educação e uma equipe do MEC desarticulada, composta por grupos que só trazem prejuízos”, alerta a presidente-executivo do Todos pela Educação, Priscila Cruz.
CAI NÃO CAI
Na noite de quarta-feira a demissão de Vélez Rodriguez chegou a ser anunciada pela jornalista Eliane Cantanhêde na Globo News e pelo Twitter e também sinalizada pelo próprio presidente em entrevista ao jornalista José Luiz Datena, da Band.
“Temos que resolver a questão. Vamos ter mais uma conversa com o atual ministro e vamos ter que decidir a questão da Educação, porque, realmente, não estão dando certo as coisas lá”, afirmou Bolsonaro.
Pouco tempo depois, no entanto, na mesma noite via tuiter, o presidente negou que iria demitir o ministro. “Sofro fake news diárias como esse caso da ‘demissão’ do Ministro Velez. A mídia cria narrativas de que NÃO GOVERNO, SOU ATRAPALHADO, etc. Você sabe quem quer nos desgastar para se criar uma ação definitiva contra meu mandato no futuro. Nosso compromisso é com você, com o Brasil”, escreveu.