Portando uma faixa com o desenho dos rolos da Torá (O Velho Testamento) e a inscrição: “Dignidade ao invés de prisões”, mais de 1.000 ativistas progressistas judeus fecharam durante horas a entrada da sede do Departamento de Imigração e Alfândega (ICE, sigla em inglês), em Washington, no dia 18.
Os ativistas realizaram esse protesto contra a política de expulsão forçada anunciada dias antes por Trump e exigindo o fechamento do que estão denominando de “campos de concentração de Trump”, referindo-se aos centros de detenção de imigrantes espalhados pelo país.
Segundo reportagem sobre o protesto publicada pelo portal The Daily Beast, “os funcionários do ICE tiveram que tentar entrar no prédio atravessando o cerco ao edifício pelos que resistiam a sua passagem”.
“Não vamos deixar que eles entrem para fazer seu trabalho destrutivo”, declarou um dos ativistas que participava do ato, atendendo ao chamado da organização de advogados judeus norte-americanos denominada de “Never Again Action” (Ação Nunca Mais), numa referência ao genocídio de judeus pelo regime hitlerista durante a Segunda Guerra Mundial. O movimento também contou com o apoio dos defensores de imigrantes organizados no Movimiento Cosecha.
Os manifestantes deram-se os braços, fechando a rua que levava à sede do ICE e ficaram cara a cara com um cordão policial. A manifestação durou cinco horas e diversos dos manifestantes foram detidos.
O historiador Angus Johnston considerou o ato “do maior significado na história da administração Trump”.
Alguns dias antes, no domingo, dia 14, a comunidade judaica de Nova Iorque foi mobilizada para dar apoio a imigrantes não documentados que, depois dos anúncios de Trump, se viram em risco de serem detidos através de buscas em suas casas, o que deveria começar a acontecer naquele dia.
Segundo reportagem da CNN muitos imigrantes abasteceram os seus lares e se prepararam para ficar em casa com as luzes apagadas e persianas e cortinas baixadas. Eles se aconselharam entre si sobre seus direitos e sobre como agir diante dos agentes do ICE.
O jornal New York Times noticiou que os planos para as razias “foram mudados no último minuto diante das informações sobre a resistência organizada à operação de apreensões”.
A organização denominada ”T’ruah: O Chamado Rabínico Para os Direitos Humanos” (o termo T’ruah é uma referência ao toque com berrantes de chifres de antílope e de boi usados no Dia da Expiação, Yom Kipur, nas sinagogas). Essa organização de rabinos (líderes religiosos judeus) se uniu à organização crista, New Sanctuary Coalition, formando uma rede de templos religiosos oferecendo abrigo aos imigrantes não documentados nos dias programados para as razias.
Só a T’ruah organizou e divulgou uma lista de 70 sinagogas espalhadas pelo país para servirem de refúgio aos imigrantes que se sentirem sob risco.
O grupo de apoiadores desta operação de apoio é constituído por mais de 2.000 rabinos e cantores de sinagogas e segundo a T’ruah, “representam a voz moral da comunidade judaica” e denunciou as razias como “cruéis, imorais e desumanas”.
“Eles querem rasgar laços familiares e elevar o clima de medo que assalta as comunidades-alvo dessa política”.
Para os rabinos, “Estados Unidos deveria ser um país de boas-vindas para os que buscam escapar de situações perigosas em outros países ou que levaram anos construindo suas novas vidas aqui. Essas razias não servem outro propósito do que prender mais imigrantes e inflar a base de Donald Trump”.
A T’ruah prossegue afirmando que “o governo Trump age como os líderes da bíblica Sodoma, cujo pecado original, de acordo com a literatura rabínica, é o abuso dos estrangeiros e sua xenofobia”.
E continuam: “Com essas razias, nosso país está agindo como outra Sodoma: um lugar onde a injustiça é mascarada como a norma legal”.
Um mapa foi postado na internet com a área urbana de Nova Iorque onde constam 11 sinagogas e mais igrejas e mesquitas onde os imigrantes necessitados podem buscar refúgio seguro.
Uma das organizadoras do movimento, Sophie Ellman-Golan, declarou que as detenções em massa de imigrantes “significa o reino de terror do ICE. É a aterrorização intencional das comunidades de imigrantes pelo governo federal”.
“É obrigação de todas as pessoas conscientes de recusarem a se dobrarem com o ICE e barrar essas ações de cerco às pessoas e seu aprisionamento em campos de concentração.
“E não podemos apenas nos limitar em ficar contra essas razias. Temos que exigir mais: fim às detenções e proteção permanente aos 11 milhões de imigrantes ainda não documentados que vivem neste país. Os democratas devem se levantar e defender a segurança e a dignidade dessas comunidades”, acrescentou Sophie.
A Prefeitura de Nova Iorque, assim como as páginas da deputada Alexandria Ocasio-Cortez, oferecem informações sobre os direitos dos imigrantes e sobre como se portar para enfrentar os agentes do ICE.
NATHANIEL BRAIA